quarta-feira, 1 de julho de 2009

Os medos que a gente tem

Aninha não queria gritar.

Mas gritou bem alto quando a lagartixa caiu bem em cima do seu pé.
A avó que dormia na sala, acordou assustada, e acabou gritando também.

-Ai ui,o que foi menina?

Aninha correu pra cima do sofá.

-Uma lagartixa Vó.

A Avó estremeceu todinha.

-Ai, eu não suporto lagartixa! Elas não fazem mal pra ninguém, tadinhas, mas eu simplesmente morro de medo, grgrgr.

Aninha que entendia que os adultos não devem ter medo de nada, foi logo falando:

-Como assim Vó?Você já é muuuuuito grande, e tem medo de uma lagartixinha boba dessas?

A avó sorriu.

-Pra você ver.Todo mundo tem medo, até eu.

Aninha estava encafifada.

-Mas não deveria Vó, só criança tem medo.Olha só:Criança tem medo de escuro, de lagartixa e barata.

A avó continou:

-Adulto tem medo de avião, de imposto e de inflação.

Aninha sorriu entrando na brincadeira:

-Criança tem medo de fogo, do homem saco e de dragão.

-E adulto também tem muito medo do ladrão!

-Criança tem medo, de fogos de artíficio, de cair no buraco,de aranha, de trovão...

-Adulto tem medo de bactérias, de ficar fechado em lugar apertado e também tem medo de trovão.

Aninha pensou, pensou, pensou e falou:

-Ahá, já sei uma coisa que adulto não tem medo: De ficar sozinho!

A Avó deu aquele sorrisão de vencedora:

-É aí que você se engana, tem muito adulto que também tem medo de ficar sozinho,que tem medo da solidão.

-Tem mesmo,Vó?

-Claro que sim!Sabe porque? Porque o adulto é a criança que cresceu, e alguns dos nossos medos, a gente carrega com a gente. Uns ficam bem escondidinhos, outros desaparecem, e outros aparecem de vez em quando para fazer uma visita.Os medos apenas mudam de figura e de tamanho.É uma pena, mas nós adultos não podemos nos esconder embaixo da cama, ou no colinho da mamãe, não é verdade?

Aninha concordou.

-É mesmo uma pena Vó, porque colinho de mãe é tão bom nessas horas!

A Avó sorriu concordando também.

-Você tem razão, minha netinha.

De repente,Aninha ouviu um barulhinho,desses bem pequeninhos:

-Ih vó, eu acho que tem uma barata embaixo do sofá...

E as duas saíram correndo da sala gritando:

-Socorro, uma barata cascuda!

Um comentário:

Úrsula Avner disse...

Um encanto este conto que enternece crianças e adultos. Um bj com carinho.